A decisão do Supremo tem um profundo valor simbólico e humanitário: busca reparar, em parte, a violência histórica cometida contra as comunidades originárias isoladas que foram exterminadas pelo avanço da fronteira agrícola e madeireira na região amazônica.
“O caso Tanaru representa uma ferida aberta na história brasileira. Este parque não é apenas uma homenagem, mas uma garantia de que atrocidades semelhantes não se repetirão”, afirmou na ocasião a ministra Cármen Lúcia Antunes, relatora da decisão.
Depois de viver mais de 25 anos completamente sozinho, após sua comunidade ter sido massacrada por fazendeiros, o Homem do Buraco foi encontrado morto em 2022 em sua cabana.
Seu total isolamento e seu costume de cavar buracos dentro de sua casa — de onde veio seu apelido — o tornaram um símbolo mundial de resistência e dignidade.
Com a decisão do Supremo Tribunal Federal, a área de mais de oito mil hectares ficará sob a administração do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Lá será protegida não apenas a memória do povo Tanaru, mas também um dos ecossistemas mais ameaçados da Amazônia ocidental.
“É um território sagrado e um alerta sobre o preço humano do desmatamento”, declarou Joenia Wapichana, presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai). “O Homem do Buraco morreu sozinho, mas sua história continuará viva em cada árvore que conseguirmos salvar”, afirmou.
Organizações ambientais e de direitos humanos comemoraram a medida como um precedente histórico, destacando que o Estado brasileiro reconhece, pela primeira vez, um território indígena extinto como patrimônio cultural e ecológico.
A criação do Parque Tanaru se insere na política do governo de Luiz Inácio Lula da Silva de retomar a demarcação de terras indígenas, paralisada durante o mandato do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (2019-2022).
Segundo dados oficiais, mais de 100 povos indígenas continuam vivendo em isolamento voluntário na Amazônia, muitos deles ameaçados pelo avanço ilegal da mineração, da pecuária e do narcotráfico.
Com o novo parque, o Brasil não apenas protege uma área de floresta, mas também a memória de um povo que desapareceu sem deixar descendentes, mas com uma mensagem de sobrevivência e respeito à terra.
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