27 de April de 2024
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Da Grande Depressão ao neoliberalismo

Da Grande Depressão ao neoliberalismo

Quito (Prensa Latina) A inédita Grande Depressão, desencadeada em 1929 com a quebra da bolsa de valores de Nova York, teve sérias repercussões, durante uma década, na economia capitalista mundial. Também afetou a América Latina, provocando a queda de suas exportações, encarecendo as importações, tornando as dívidas externas impagáveis, estrangulando as receitas estatais e restringindo os investimentos públicos e privados. Se o desemprego e a miséria cresceram nos Estados Unidos, na América Latina essas consequências sociais tornaram-se gigantescas, além de provocar instabilidades políticas e institucionais.

Juan J. Paz-y-Miño Cepeda*, colaborador de Prensa Latina

Nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos e na Europa, a crise demonstrou o descontrole do modelo de “livre concorrência”. Já na América Latina, com economias subdesenvolvidas e apenas alguns países em decolagem capitalista, a crise evidenciou a persistência de regimes oligárquicos. Para resolvê-lo, o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt (1933-1945), tentou políticas econômicas e sociais sem precedentes que romperam com os dogmas da teoria econômica liberal clássica. Implantou o New Deal, que inaugurou o papel ativo do Estado: sancionou empresários desonestos; fez grandes investimentos públicos; regulava preços e juros; impôs altos impostos, especialmente sobre a renda; instituiu o sistema previdenciário e garantiu direitos trabalhistas; concedeu subsídios e auxílios (“bônus”) para moradores em situação precária; emprego gerado em todos os tipos de atividades; revigorou o consumo interno, o que serviu para elevar a oferta. Em cem dias a crise foi controlada. E

Nos anos sucessivos, as novas políticas destinadas a criar uma economia de bem-estar social nos EUA. eles foram reforçados e Roosevelt foi reeleito três vezes.

No quadro da crise mundial, na Europa, a trilogia fascismo, nazismo e falangismo foi a resposta política ao avanço dos partidos comunistas e dos movimentos operários radicais na Itália, Alemanha e Espanha, respectivamente. Mas uma vez terminada a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o modelo de economia social de mercado difundiu-se nos países europeus, como base dos seus estados de bem-estar. No fundo, também rompendo com a ortodoxia liberal, implementou-se a participação ativa do Estado na economia, com a generalização da previdência social pública, amplas garantias dos direitos dos trabalhadores e pesados impostos.

Na América Latina foi difícil superar as economias subdesenvolvidas, pois a decolagem capitalista exigia a derrubada da hegemonia oligárquica. Com a Revolução de 1910 e a pioneira Constituição Social de 1917, o México iniciou o processo de superação do regime oligárquico; mas as bases de uma economia social foram estabelecidas com o presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940). No Brasil, caminho semelhante foi alcançado durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) e a instauração do Estado Novo. Na Argentina, foi Juan Domingo Perón (1946-1955) quem buscou consolidar um estado de bem-estar. Os três governantes “populistas”, assim descritos pela literatura sociológica clássica, com as contradições e limites que se quer apontar, exemplificam a busca de uma economia social, distante dos postulados da economia capitalista de livre concorrência.

A possibilidade de criar economias de tipo social e com estados de bem-estar social em outros países latino-americanos também circulava nas décadas de 1920 e 1930. O Uruguai, por exemplo, iniciou esse caminho em 1925, a Costa Rica o mesmo e o Equador após a Revolução Juliana e seus governos entre 1925-1931. Mas é nas décadas de 1960 e 1970, com a decolagem do desenvolvimentismo como modelo industrial e forte intervencionismo estatal, que os regimes oligárquicos foram de fato superados e se promoveu o desenvolvimento capitalista definitivo da maioria dos países latino-americanos. Em várias delas, como aconteceu no Equador, chegou a favorecer o programa da Aliança para o Progresso promovido pelos Estados Unidos, ao qual as oligarquias tradicionais resistiam e tachavam de “comunista”.

Apesar dos recorrentes processos históricos de implementação de economias sociais, comparáveis com as da Europa ou do Canadá e até com os Estados Unidos. Antes da “reforma neoliberal” inaugurada pelo presidente Ronald Reagan (1981-1989) – que abandonou o modelo rooseveltiano e introduziu o neoliberalismo -, na América Latina as economias de bem-estar não conseguiram se manter ou consolidar. Houve um travão permanente às oligarquias tradicionais e às novas burguesias, porque a sua acumulação de riqueza sempre dependeu da redução das capacidades dos Estados, da redução dos impostos sobre os seus lucros e negócios, mas sobretudo da exploração da mão-de-obra, naquilo que existe longa história que pode muito bem remontar aos tempos coloniais.

o neoliberalismo introduzido na região nas últimas décadas do século XX liquidou qualquer projeto de economia social. Era o retorno ao capitalismo de “livre concorrência”, com as palavras de ordem de redução das capacidades estatais, privatização de bens e serviços públicos, supressão de impostos, mas, sobretudo, flexibilização das relações trabalhistas, destruição dos direitos dos trabalhadores. As consequências desastrosas desse modelo podem ser encontradas em qualquer país latino-americano. Assim, foram os governos do primeiro ciclo progressista na primeira década do século XXI que retomaram a construção de economias sociais, em circunstâncias históricas diferentes das do passado. Conseguiram recuperar as capacidades do Estado, realizar amplos investimentos públicos, fortalecer e ampliar os serviços públicos, impor sistemas de redistribuição de riquezas, bem como garantir direitos sociais, trabalhistas e ambientais, enquanto conduziam políticas internacionais baseadas em p

princípios soberanistas, nacionalistas e latino-americanos.

Depois desse ciclo vieram restaurações conservadoras que reviveram o caminho neoliberal. No entanto, no segundo ciclo progressivo, tenta-se novamente restaurar as economias sociais. No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador alterou o passado, inaugurando o novo rumo. Em apenas seis meses, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retomou as reformas com uma melhora significativa nas condições sociais do Brasil. Na Colômbia, avança o presidente Gustavo Petro, ao mesmo tempo em que enfrenta a consolidação da paz. Na Argentina, o presidente Alberto Fernández é outro exemplo da trajetória progressista. Mas em todos os países suscitam a furiosa resistência das elites econômicas do poder. Eles não estão dispostos a derrotar o neoliberalismo com economias sociais que agora chamam de “comunistas”.

E nesse jogo de forças opostas, as eleições presidenciais do Equador em 20 de agosto refletem as mesmas circunstâncias históricas que a América Latina vive: amplos setores progressistas que almejam o bem-estar, em oposição a elites privadas que só estão interessadas em garantir bons negócios, em as melhores condições de rentabilidade, sem propostas sociais.

rmh/jjpmc/ml

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