Sexta-feira, Novembro 21, 2025
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Brasil agita a COP30 com rascunho sem combustíveis fósseis

Belém, 21 nov (Prensa Latina) A COP30 transcorre hoje sob tensões após a publicação de um rascunho que elimina toda referência ao fim dos combustíveis fósseis, enquanto países vulneráveis e grandes economias exigem manter um roteiro para a transição energética.

A presidência brasileira da XXX Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30) publicou uma versão revisada do texto final que elimina qualquer menção ao abandono dos hidrocarbonetos tradicionais, um ponto que vinha dividindo as quase 200 delegações reunidas há duas semanas nesta cidade amazônica.

Essa omissão caiu como um balde de água fria sobre os países que promovem um compromisso mais claro com a transição energética.

Na primeira versão divulgada esta semana, ainda figuravam alternativas de redação para traçar um roteiro que cumprisse a promessa da COP28 de iniciar o fim dos combustíveis fósseis. Essa promessa desapareceu na madrugada de sexta-feira: todas as referências foram suprimidas.

Por trás dessa reviravolta, segundo negociadores consultados, estaria a pressão dos grandes produtores de petróleo liderados pela Arábia Saudita, que se resistiram a qualquer formulação explícita sobre a redução progressiva desses recursos. O governo do país árabe não respondeu aos pedidos de comentários.

Em contrapartida, um bloco amplo e diversificado — da Alemanha ao Quênia, passando pelos Estados insulares mais vulneráveis — vinha reclamando uma orientação concreta sobre como avançar na transição energética.

Antes do novo rascunho ser divulgado, 36 países enviaram uma carta ao Brasil avisando que rejeitarão um documento final que omita essa rota.

Entre os signatários estão Espanha, França, Reino Unido, Coreia do Sul, Chile, Colômbia, México e Panamá, além de ilhas do Pacífico como Fiji e Marshall.

“A COP não pode ser encerrada sem um caminho claro e justo para deixar para trás os combustíveis fósseis”, alertaram na carta.

A presidência brasileira tentou retomar o diálogo na quinta-feira, após um incêndio nos pavilhões que obrigou a evacuar temporariamente a sede e interrompeu as discussões.

Mesmo assim, o rascunho divulgado nesta sexta-feira continua aberto a negociações e só poderá ser aprovado se houver consenso, um cenário que se complica a cada hora que passa.

Embora a COP30 esteja prevista para terminar nesta sexta-feira, em Belém ninguém descarta a habitual prorrogação até o fim de semana.

Além do capítulo mais controverso, o rascunho propõe triplicar até 2030 os recursos globais destinados à adaptação climática em relação aos níveis de 2025.

O texto, no entanto, não esclarece se o esforço recairá sobre os países desenvolvidos, como reivindicam as nações mais pobres, ou se também recorrerá a bancos multilaterais e ao setor privado.

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