Diante de vários reveses na Câmara dos Deputados e no Senado nos últimos dias, um mercado financeiro que perdeu a confiança em suas políticas, uma indústria em declínio que reclama, um escândalo complexo sobre corrupção institucional e um cenário de rua cada vez mais turbulento, o governo do líder libertário mostra sinais de fraqueza, concordam os analistas.
“A crise política estava ali, logo ali na esquina, alertada até mesmo dentro da Casa Rosada.
Ela se acelerou, é claro, após a derrota eleitoral arrasadora em 7 de setembro na província de Buenos Aires”, escreveu Ariel Basille para o Ámbito Financiero.
Das 10 eleições provinciais, as forças libertárias perderam oito, sendo a da Província de Buenos Aires a mais desastrosa.
No plano econômico-financeiro, as medidas adotadas por seu Ministro da Economia, Luis Caputo, especialmente para evitar a desvalorização do peso, cuja taxa de câmbio já ultrapassou o limite estabelecido como linha vermelha e atualmente está sendo negociada a 1.515 para um, impactam diretamente a indústria e empresas de todos os portes em uma economia que dá sinais de recessão.
E, sem saber o que mais fazer, após aumentar desproporcionalmente as taxas de juros, Caputo começou a vender os dólares que lhe foram emprestados pelo Fundo Monetário Internacional, que os argentinos ricos agora estão comprando antes que uma nova “corrida” comece. É claro que esses dólares são retirados do país em uma contínua fuga de capitais, sem contribuir em nada para o investimento produtivo.
Nesse contexto, o valor dos ativos argentinos está despencando e o investimento estrangeiro direto não chega, caindo abaixo dos níveis de 2023 e muito abaixo do que foi captado em 2019, o ano pré-pandemia.
Relatórios divulgados nesta sexta-feira revelam uma queda significativa na ocupação comercial no chamado centro de Buenos Aires, que é sentida em toda a capital. O declínio do poder de compra argentino está mantendo os argentinos longe de lojas e aglomerações em cafés e bares, enquanto o turismo estrangeiro atinge um nível nunca visto nos últimos 25 anos.
Diante dessa situação, Milei convocou uma reunião ampliada na quinta-feira na Quinta de Olivos com candidatos da coalizão La Libertad Avanza/PRO, ministros e trolls das redes sociais. E, para surpresa e espanto de muitos, foi revelado hoje que ela nomeou a modelo e estrela Virginia Gallardo como sua assessora econômica.
Na arena política, o Congresso já parou de apoiá-lo e mais de dois terços votam contra seus vetos e decretos. Enquanto isso, os governadores que antes cerravam fileiras para proteger o governo libertário, adoçados por uma narrativa de promessas, agora estão do outro lado da cerca depois que ele os traiu.
Ele os privou de verbas para obras e programas públicos sob o pretexto de um “déficit fiscal zero” e reteve verbas automáticas do Tesouro Nacional, que o Congresso agora restaurou ao revogar o veto de Milei à lei que as alocava.
Nos últimos dias, os congressistas também derrubaram os vetos que ele impôs à legislação que prevê financiamento para assistência médica pediátrica, funcionamento de universidades públicas e emergência para deficientes, e avançaram com o projeto de reforma que limita os poderes do presidente para implementar decretos.
Uma grande mobilização nacional na última quarta-feira contra os vetos presidenciais demonstrou que a sociedade não pode mais tolerar as políticas de austeridade indiscriminadas e quer sua saída. Em resposta, Milei e seus assessores recorrem a mentiras, mas são rapidamente expostos.
As próximas eleições legislativas nacionais, em 26 de outubro, serão mais um teste duro para o Mileísmo, que já está sendo fustigado até mesmo pela mídia que o apoiou e ajudou a levá-lo à Casa Rosada. A campanha eleitoral apenas começou.
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