Com uma economia dinâmica, uma população de quase 100 milhões de pessoas e uma integração profunda nas cadeias de fornecimento globais, o Vietnã traz ao Brasil uma história de resiliência e astúcia, transformando-se de um país outrora isolado em um parceiro confiável, ativamente engajado na construção de mecanismos multilaterais. A presença do Vietnã no BRICS 2025 não apenas marca um novo passo em sua trajetória de integração internacional, mas também reflete seu compromisso em abordar desafios globais, desde o desenvolvimento sustentável até a resposta às mudanças climáticas. Para o Brasil e a comunidade internacional, a história da diplomacia multilateral do Vietnã é uma jornada inspiradora, de um país que superou adversidades para se tornar um ator indispensável no cenário global.
Fundamentos da Diplomacia Multilateral: A Visão de Ho Chi Minh
A diplomacia multilateral do Vietnã tem suas raízes na visão estratégica do Presidente Ho Chi Minh, que lançou as bases para uma diplomacia aberta e colaborativa desde os primeiros dias da fundação da República Democrática do Vietnã. Em uma carta enviada ao Secretário-Geral das Nações Unidas em 1946, ele afirmou: “O Vietnã está pronto para implementar uma política de portas abertas e cooperação em todas as áreas; aceita participar de qualquer organização de cooperação econômica internacional sob a liderança das Nações Unidas”. Essa visão pioneira tornou-se a bússola da diplomacia vietnamita por quase oito décadas, desde a luta pela independência até o período de integração internacional profunda, moldando um Vietnã moderno, dinâmico e responsável.
Desde a implementação das reformas Doi Moi em 1986, a diplomacia multilateral foi definida como um pilar central da política externa do Vietnã, baseada nos princípios de “independência, autossuficiência, paz, cooperação e desenvolvimento; multilateralização e diversificação de relações, integração internacional proativa e ativa”. A Resolução 13/NQ-TW de 1988, do Politburo, marcou um ponto de virada com a diretriz de “fazer mais amigos, reduzir inimigos”, estabelecendo as bases para a estratégia de “multilateralização e diversificação” das relações internacionais. Ao longo dos congressos do Partido, especialmente o XII (2016) e o XIII (2021), a diplomacia multilateral foi elevada de “participação” para “contribuição ativa, formulação e liderança” de instituições multilaterais. A Diretiva 25-CT/TW de 2018 do Secretariado reforçou ainda mais a ambição de “assumir um papel central, de liderança ou mediação” em fóruns multilaterais de importância estratégica, demonstrando a maturidade excepcional do Vietnã em lidar com desafios globais.
Jornada de Integração e Marcos Históricos
Ao longo de quase 80 anos, a diplomacia multilateral acompanhou as fases de desenvolvimento do Vietnã, desde a luta pela independência até a construção e defesa da nação. No período de 1945 a 1975, as vitórias diplomáticas no Acordo de Genebra (1954) e no Acordo de Paris (1973) não apenas afirmaram os direitos fundamentais da nação vietnamita, mas também conquistaram amplo apoio de amigos internacionais, contribuindo para a histórica vitória da reunificação do país. Esses feitos estabeleceram uma base sólida para a posição de um Vietnã independente no cenário internacional.
Após 1975, a diplomacia multilateral desempenhou um papel crucial na quebra do isolamento e dos embargos, na proteção da soberania territorial e na atração de recursos para o desenvolvimento. A adesão às Nações Unidas em 1977 foi um marco jurídico, afirmando a plena participação do Vietnã na comunidade internacional. A entrada na ASEAN em 1995 marcou a integração regional, enquanto a adesão à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2007, após 12 anos de negociações, integrou completamente a economia vietnamita ao sistema comercial global. De um país outrora isolado, o Vietnã hoje é membro da maioria das organizações multilaterais importantes, desde as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional até a APEC, o Fórum de Cooperação Ásia-Europa (ASEM) e o Banco de Desenvolvimento Asiático. A rede de 17 acordos de livre-comércio (ALCs) com os principais centros econômicos do mundo é uma prova da integração profunda e dinâmica do Vietnã.
A diplomacia multilateral não se limita à economia, mas se estende a áreas como segurança, cultura, saúde, educação e meio ambiente. O Vietnã participou ativamente de missões de manutenção da paz das Nações Unidas, com a bandeira vermelha com uma estrela dourada presente nessas missões como um símbolo de seu compromisso com a integração em defesa e segurança e com a responsabilidade global. Durante a pandemia de Covid-19, o apoio de mais de 70 milhões de doses de vacinas de instituições multilaterais ajudou o Vietnã a controlar eficazmente a doença, ao mesmo tempo em que reforçou o papel da cooperação internacional. Esforços na promoção da cultura, erradicação da pobreza e implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio também contribuíram para moldar a identidade de um Vietnã civilizado, amante da paz e integrado.
Papel no BRICS: Símbolo de Cooperação Multilateral
A oficialização do Vietnã como o décimo parceiro do BRICS em junho de 2025, conforme anunciado pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, é um marco significativo em sua jornada de diplomacia multilateral. Com uma população de quase 100 milhões, uma economia em rápido crescimento e uma profunda integração nas cadeias de valor globais, o Vietnã é reconhecido como “um ator importante na Ásia” e um parceiro que compartilha o compromisso do BRICS de construir uma ordem internacional mais justa e representativa. A participação do Primeiro-Ministro vietnamita na Cúpula do BRICS 2025 não é apenas uma atividade diplomática rotineira, mas uma prova viva da política externa do Vietnã de independência, autossuficiência, multilateralização e diversificação. No BRICS, o Vietnã traz uma mensagem consistente de um mundo multipolar, democrático e pacífico, ao mesmo tempo em que expressa o desejo de promover reformas nas instituições globais para maior transparência, inclusão e equidade. Sua presença no fórum não apenas fortalece os laços com economias emergentes como Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul, mas também abre oportunidades para aprofundar a cooperação Sul-Sul, ampliando a rede de parcerias estratégicas abrangentes. Para o Brasil, a participação do Vietnã é uma chance de intensificar a cooperação bilateral em áreas como comércio, agricultura de alta tecnologia, energia renovável e resposta às mudanças climáticas, consolidando a relação de parceria estratégica entre os dois países. Como duas economias emergentes dinâmicas, Vietnã e Brasil podem, juntos, impulsionar iniciativas no BRICS, como o desenvolvimento sustentável, a transição verde e a redução das desigualdades econômicas globais.
Visão Estratégica na Nova Era
O ano de 2025 marca vários marcos importantes para a diplomacia multilateral do Vietnã, como o 30º aniversário de sua adesão à ASEAN e o 80º aniversário da fundação das Nações Unidas. Continuando seus êxitos, o Vietnã está se preparando ativamente para sediar grandes eventos multilaterais, como o Fórum do Futuro da ASEAN, a 4ª Cúpula do P4G e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD). Ao mesmo tempo, o Vietnã continua a desempenhar papéis importantes em organizações internacionais como a UNESCO, o Conselho Executivo da ONU Mulheres (2025-2027), e está se candidatando a posições como o Conselho de Direitos Humanos (2026-2028) e o Tribunal Internacional do Direito do Mar (2026-2035). Esses esforços refletem a ambição do Vietnã de não apenas participar, mas também moldar as regras e normas internacionais.
Em um contexto de globalização enfrentando desafios como mudanças climáticas, conflitos geopolíticos e polarização econômica, o Vietnã está comprometido em contribuir ativamente para soluções multilaterais. Desde a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a redução de emissões líquidas até a participação em operações de manutenção da paz, assistência humanitária e apoio a países em desenvolvimento, o Vietnã está consolidando seu papel como um parceiro responsável, aberto e inovador. Sua participação no BRICS 2025 faz parte de uma estratégia de longo prazo para aproveitar as oportunidades do cenário internacional, ao mesmo tempo em que contribui para a construção de uma ordem global mais justa e sustentável.
Vietnã – Brasil: Juntos por um Futuro Sustentável
A presença do Vietnã na Cúpula do BRICS 2025 não é apenas uma oportunidade para afirmar sua posição, mas também para estreitar os laços com o Brasil – um parceiro estratégico que compartilha muitos valores e interesses comuns. Ambos os países são economias emergentes dinâmicas, unidas pela aspiração de construir um mundo multipolar, pacífico e próspero. A cooperação em áreas como agricultura inteligente, energia renovável, educação e transformação digital não apenas trará benefícios práticos para ambos, mas também contribuirá para avançar os objetivos de desenvolvimento sustentável globais. Com sua experiência em integração econômica e resposta a desafios globais, Vietnã e Brasil podem propor iniciativas conjuntas no BRICS, desde a promoção de um comércio mais justo até o apoio à transição verde em países em desenvolvimento.
A jornada da diplomacia multilateral do Vietnã é uma história de ascensão notável, de uma nação que enfrentou muitas adversidades para se tornar um parceiro confiável na comunidade internacional. Desde os primeiros passos com a visão de Ho Chi Minh até sua posição como parceiro importante do BRICS, o Vietnã demonstrou que um país, independentemente de seu tamanho geográfico, pode gerar impactos significativos no cenário internacional por meio de determinação, habilidade e responsabilidade. No BRICS 2025, o Vietnã não apenas compartilha sua história de sucesso, mas também demonstra um espírito de cooperação, responsabilidade e ambição de trabalhar com o Brasil e outras nações para construir um futuro pacífico, sustentável e próspero para a humanidade. Com o apoio da diplomacia multilateral, o Vietnã avança firmemente em sua trajetória de integração abrangente, consolidando seu papel indispensável na definição do cenário global do século XXI.
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