A eleição, promovida pelo presidente Daniel Noboa, busca validar mudanças que seu governo considera essenciais para o combate ao crime organizado e a reforma do arcabouço institucional do país, mas as propostas enfrentam diversas críticas.
Três das questões visam modificar a Constituição vigente e, portanto, são consideradas questões de referendo, enquanto a última questão é uma consulta popular para determinar se os cidadãos desejam uma nova Constituição.
Na cédula, a primeira questão propõe a eliminação da proibição constitucional de permitir bases militares estrangeiras em território equatoriano.
Noboa defende essa iniciativa, vedada pelo Artigo 5º da Constituição vigente, como uma ferramenta para combater as organizações criminosas diante da crescente violência. Ele argumenta que a cooperação internacional não comprometerá a soberania e que o Equador precisa de apoio externo para conter uma situação que já registrou mais de 7.450 homicídios entre janeiro e outubro.
Organizações sociais e movimentos políticos rejeitam categoricamente a proposta.
Eles afirmam que ela abre as portas para agendas externas, que não se mostrou eficaz — como evidenciado pelo histórico da base militar dos EUA em Manta entre 1999 e 2009 — e que poderia levar a um maior controle interno sobre os cidadãos.
A Secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, visitou recentemente enclaves em Manta e Salinas, enquanto o Secretário de Estado Marco Rubio declarou que Washington consideraria “muito seriamente” retornar se o Equador o solicitasse.
A segunda questão propõe a eliminação do Fundo Permanente do Partido, que financia atividades de treinamento e operações internas de organizações políticas.
O governo alega que a eliminação do fundo reduzirá as despesas e forçará os partidos a dependerem de contribuições privadas; no entanto, os opositores argumentam que isso enfraquece a democracia e favorece aqueles com mais recursos.
Além disso, especialistas temem que, sem controles estatais, o risco de financiamento ilícito aumente em um país onde o crime organizado se infiltrou nas estruturas políticas.
A terceira questão propõe reduzir o número de membros da assembleia em quase metade, uma proposta que parece ter encontrado eco no público, que a associa a uma redução nos gastos públicos.
No entanto, especialistas jurídicos e figuras da oposição afirmam que a medida diminuiria a representação democrática e afetaria desproporcionalmente as províncias menores, que passariam a ter apenas um legislador.
A quarta questão — a única sujeita à consulta popular — propõe a convocação de uma Assembleia Constituinte de 80 membros para reescrever a Constituição, que seria então submetida a um plebiscito. Para Noboa, a nova Constituição permitiria a reorganização do Estado, a reforma de instituições como o Tribunal Constitucional, uma resposta à insegurança e a redução do número de artigos de 444 para 180. Os críticos, porém, argumentam que o processo poderia se tornar um “cheque em branco” que aumenta o poder do Executivo e permite retrocessos em direitos. Alberto Acosta, ex-presidente da Assembleia de Montecristi, afirma que o governo busca substituir um texto que “incomodou as elites”, enquanto outros especialistas alertam que não há garantias de que direitos como o ensino superior gratuito ou os direitos da natureza serão mantidos.
A controvérsia se intensificou quando Noboa sugeriu que a Constituição poderia ser redigida com o auxílio de inteligência artificial, embora posteriormente tenha se retratado e apresentado os nomes de potenciais membros da Assembleia Constituinte, incluindo o de sua mãe, Anabella Azín.
Caso essa questão seja aprovada, o Equador terá que votar mais duas vezes: uma para eleger os membros da Assembleia Constituinte e outra para ratificar a Constituição emendada, em um processo que pode durar mais de um ano. As quatro propostas surgem em meio à extrema violência, crise econômica e desconfiança institucional.
Noboa age como se a vitória do “Sim” neste domingo, 16 de novembro, estivesse garantida, mas o resultado será decidido pelos cidadãos em um processo que custará aproximadamente US$ 60 milhões.
arc/avr/bj





