Às margens do rio Guamá e com a brisa úmida do estado do Pará, a metrópole amazônica, Santa Maria de Belém do Grão-Pará, recebe desde esta quinta-feira e até amanhã a Cúpula de Líderes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), como voz ativa na luta pela sobrevivência global.
Cidade lendária e resistente, fundada em 1616 por Francisco Caldeira Castelo Branco, nasceu como bastião do império ibérico.
Quatro séculos depois, transforma-se na capital simbólica da humanidade diante do desafio ambiental.
Onde antes se erguia o Forte do Presépio como defesa colonial, hoje se levantam discursos por um futuro sustentável.
Com cerca de 1,3 milhão de habitantes, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Belém vibra com uma mistura de tradição e renovação.
Seu povo caloroso e sua cultura mestiça fazem dela um espelho do Brasil profundo: terra de música, aromas de tucupí e açaí, mercados onde a vida se vende em cores e vozes.
Até a chuva diária, pontual e generosa, parece acompanhar o ritmo da localidade que abre seus braços para o mundo.
O visitante que chega pela primeira vez encontra um museu vivo de história e natureza. Locais como a Estação das Docas, o Mangal das Garças, o Theatro da Paz, o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Mercado do Ver-o-Peso ou a Casa das Onze Janelas compõem uma geografia cultural, onde a Amazônia se conta em arquitetura, sabor e som.
Mas Belém não é só beleza, é também memória e resistência cultural. O Parlamento paraense aprovou recentemente leis que reconhecem seu legado, como o projeto que declara o Círio de Nazaré — a maior procissão religiosa do Brasil — Patrimônio Cultural Imaterial do Estado.
Nas ruas, a fé está no ar, uma devoção que funde o espiritual com o terreno, o popular com o sagrado. Nessa mistura de história, fé e selva, Belém se reinventa agora como um empório climático do planeta.
A COP30 não poderia ter melhor anfitriã: uma cidade nascida da água, curtida pelo tempo e sustentada por seu povo. Esta porta da Amazônia simboliza o ponto de encontro entre a herança colonial e a urgência ecológica, entre as orações do Círio e as vozes que clamam por justiça climática.
Sob o mesmo céu onde chove todas as tardes, milhares de delegados e mais de 50 chefes de Estado buscarão acordos, mas também inspiração.
E talvez descubram que, neste canto do norte brasileiro, onde a terra e a água dialogam há séculos, já se respira o espírito de um novo pacto com a vida.
mem/ocs/bm





