Segunda-feira, Dezembro 15, 2025
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Chile vira para a extrema direita

Santiago do Chile, 15 dez (Prensa Latina) Com um discurso de mão dura contra a criminalidade e a imigração, o candidato da extrema direita chilena, José Antonio Kast, venceu as eleições presidenciais contra sua rival, Jeannette Jara, por uma ampla vantagem.

Por Carmen Esquivel

Nas eleições deste domingo, Kast obteve 58,16% dos votos, enquanto a candidata da esquerda, do progressismo e da social-democracia alcançou 41,84%, quando quase 100% das urnas já haviam sido apuradas.

Kast, que fez da segurança o eixo de sua campanha, disse em seu primeiro discurso à nação que trabalhará para recuperar a “tranquilidade e a ordem” e reiterou suas ameaças contra os indocumentados.

Não nos peçam, migrantes irregulares, que gastemos recursos com vocês. Quem não cumpre a lei tem que ir embora, afirmou. Embora os oito partidos de esquerda e centro que apoiaram Jara tenham que fazer um estudo aprofundado sobre as causas dessa derrota contundente, vários especialistas tentam explicar a ascensão da extrema direita no país.

Para o analista político Omar Cid, o resultado se deve em grande parte ao fato de a campanha de Jara não ter conseguido separar sua candidatura da herança do atual governo, com todos os erros que cometeu e suas derrotas políticas, como a primeira convenção constitucional.

Trata-se de um voto de castigo ao governo, disse o jornalista do Crónica Digital em declarações à Prensa Latina, após lembrar que Jara foi ministra do Trabalho no gabinete de Gabriel Boric.

Por outro lado, ele alertou que o tema da segurança e da migração marcou a maioria dos debates, uma agenda que favorecia abertamente Kast, e outros temas importantes como educação, habitação, saúde, pobreza, desigualdade, territoriais e ambientais foram deixados de lado.

Para o professor da Universidade de Santiago do Chile, Dino Pancani, esse resultado, previsto pelas pesquisas, pode ser atribuído ao desempenho de um governo que, em seus quatro anos, assumiu uma linguagem mais ligada à direita e não impôs sua própria agenda.

Além disso, a campanha da candidata não foi capaz de propor mudanças e abandonou temas importantes para a esquerda, como a justiça social.

Pancani lembrou que a antiga Concertação de Partidos pela Democracia não conseguiu ter uma candidatura competitiva depois de Michelle Bachelet.

“O mais doloroso é que os setores populares optaram por acreditar naqueles que são contra seus interesses”, alertou.

A vitória de Kast também se insere num contexto de ascensão da extrema direita, não só na América Latina, mas a nível mundial.

De fato, um dos primeiros a parabenizá-lo foi o presidente da Argentina, Javier Milei, ao saudar a vitória esmagadora de quem ele chamou de amigo e declarou que este é “mais um passo de nossa região em defesa da vida, da liberdade e da propriedade privada”.

O presidente do Paraguai, Santiago Peña, também parabenizou Kast e disse esperar que trabalhem juntos para “fortalecer ainda mais a amizade” entre seus países; enquanto o presidente do Vox, Santiago Abascal, o considerou um “querido amigo e aliado”.

De Washington, o secretário de Estado, Marco Rubio, parabenizou o presidente eleito e afirmou que “sob sua liderança, confiamos que o Chile impulsionará prioridades compartilhadas, como o fortalecimento da segurança pública, o fim da imigração ilegal e a revitalização de nossa relação comercial”.

Antes da eleição, o embaixador dos Estados Unidos em Santiago, Brandon Judd, havia expressado sua preocupação com um eventual governo chileno não alinhado aos seus interesses, o que foi qualificado aqui como um ato de interferência no processo eleitoral.

Ao abordar o tema da ascensão da extrema direita no Chile, o professor da Universidade de Santiago e doutor em estudos americanos, Eduardo Estenssoro, considerou que isso se deve a vários fatores.

Mas talvez o mais importante, disse ele, é que o mundo definido como progressista abandonou a luta pelo latino-americanismo, abandonou as bandeiras tradicionais da esquerda e esqueceu a defesa dos direitos dos pobres. Kast, membro do Partido Republicano, contou com o apoio do também extremista Partido Nacional Libertário, próximo às ideias de Milei, e da direita tradicional.

O presidente eleito assumirá suas funções no próximo dia 11 de março.

ro/car/bm

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