Sexta-feira, Outubro 03, 2025
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Cuba vista da China: memórias, cultura e amizade de 65 anos

Beijing (Prensa Latina) A história das relações entre a China e Cuba também vive na memória de cidadãos, acadêmicos, estudantes e artistas chineses que encontraram seu segundo lar no país caribenho.

Por Isaura Diez

Correspondente-chefe na China

Os depoimentos prestados à Prensa Latina revelam como, além dos acordos diplomáticos, os povos de ambas as nações construíram uma relação marcada pelo respeito mútuo, admiração e proximidade.

Pan Deng, professor da Universidade de Ciências Políticas e Direito da China, afirmou que “a China e Cuba, embora com situações nacionais diferentes, desenvolveram uma profunda amizade com base na igualdade soberana e no respeito mútuo”. O acadêmico lembrou que os dois países defendem o sistema internacional centrado na ONU e rejeitam sanções unilaterais ou medidas de pressão externa.

“Quando a tempestade chegar, continuaremos sendo o apoio mais firme um para o outro”, disse ele, destacando a recente visita do presidente Miguel Díaz-Canel a Beijing.

Na sua opinião, a amizade entre os dois povos “não se baseia na troca de interesses, mas em ideais comuns, um destino partilhado e respeito mútuo”.

Fidel Castro na memória de várias gerações

Nesses laços especiais, o líder histórico da Revolução cubana, Fidel Castro, desempenhou um papel fundamental.

Os entrevistados concordaram que sua figura e obra ocupam um lugar especial na memória coletiva chinesa.

María Chen, que estudou espanhol nos anos 60, comentou que “Fidel é um herói nacional único, muito querido e respeitado pelo povo da China”.

Aurora Lin Hai, diplomata que trabalhou em Havana, elogiou a visão de Fidel de estreitar os laços com Beijing e relacionou isso com a capacidade de Cuba de resistir a pressões externas.

“Fidel e nosso presidente Mao Zedong foram grandes estadistas com uma visão de longo prazo”, afirmou.

Além disso, ele lembrou que, por volta de 2006, Fidel promoveu um programa de bolsas de estudo para que jovens chineses pudessem cursar a universidade em Cuba.

“Muitos se beneficiaram dessa oportunidade e depois ajudaram a promover aqui o conhecimento sobre Cuba e seu povo”, indicou.

Guo Qian, residente em Beijing, disse que desde jovem ouvia histórias sobre a nação caribenha e seu líder histórico.

“Fidel Castro viveu até os 90 anos, era um ancião sábio que contribuiu para o desenvolvimento da sociedade”, afirmou.

Outro morador da capital, Ai Yuanyuan, destacou que Fidel representa para muitos “um símbolo do espírito de liberdade”.

Cultura e educação selam laços entre os povos

De fato, graças ao programa de bolsas de estudo que beneficiou cerca de três mil estudantes chineses, Gae Lin chegou à nação antilhana aos 17 anos de idade.

“A vida lá nos permitiu adquirir conhecimentos e fazer amizades que duram até hoje”, disse ela.

Gae explicou à Prensa Latina que as experiências durante sete anos de estudo a inspiraram a criar um podcast com mais de 60 episódios, no qual compartilha experiências e anedotas.

“Quero que outras pessoas descubram a riqueza desse país que amo profundamente e que deixou em mim uma grande saudade”, afirmou.

A música, a dança e a arte também são pontes sólidas na relação bilateral. Li Wen Fei, conhecido como Fido, dançarino e coreógrafo, afirmou que considera Cuba seu “segundo país natal”.

“Eu vou todos os anos”, comentou ele ao relatar suas trocas com professores do Instituto Superior de Arte e do Conjunto Folclórico Nacional.

“Cuba é um país muito atraente, onde, aconteça o que acontecer, não se renuncia à cultura”, afirmou.

Seu projeto Mapa Salsero, de divulgação da música latina na China, permite que milhares de pessoas conheçam o son, a salsa e a tradição cubana.

Laços com a América Latina e o Caribe

O professor Xu Shicheng, do Instituto de América Latina da Academia Chinesa de Ciências Sociais, explicou que os laços entre a China, Cuba e o resto da região são caracterizados pela cooperação sem condições políticas ou interesses de domínio.

“A China e a ALC estão unidas pela sinceridade do apoio mútuo e pelo progresso comum, não por cálculos de soma zero ou lógicas de dominação”, afirmou à Prensa Latina.

O acadêmico destacou que essa relação “trouxe vantagens tangíveis para os povos de ambas as partes” e que avança apesar das pressões externas.

Os depoimentos coletados confirmam que, da política à cultura e à vida cotidiana, a amizade entre a China e Cuba tem fortes raízes populares.

Em 2025, os dois países comemoram 65 anos de relações diplomáticas, respaldadas por acordos de cooperação, intercâmbios e uma crescente aproximação entre seus povos.

Em 2 de setembro de 1960, diante de mais de um milhão de cubanos, o líder histórico da Revolução Cubana, Fidel Castro, instou a romper com a República Popular da China de Mao Zedong.

Em 28 de setembro daquele ano, Cuba se tornou o primeiro país da América Latina e do Caribe a estabelecer esses laços com a nova China, o que abriu caminho para as relações entre o gigante asiático e o resto das nações da região.

O presidente Xi Jinping reiterou em várias ocasiões que Cuba e a China são “bons companheiros, bons amigos e bons irmãos” para descrever a natureza especial da relação.

arc/idm/bm

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