Por Stella Calloni*
Colaboradora da Prensa Latina
A questão é: que tipo de ajuda humanitária pode chegar à ilha caribenha nessas circunstâncias, quando o bloqueio criminoso imposto há 63 anos se agravou ao extremo com as novas medidas do governo de Donald Trump, sob o comando virtual do secretário de Estado Marco Rubio, do lobby cubano-americano de Miami?
Enquanto isso, o grupo naval dos Estados Unidos vem realizando nos últimos dias manobras de desembarque na praia do Faro, em Arroyo, Porto Rico, desde setembro, o que aumenta as tensões na área sobre as intenções ocultas do governo de Donald Trump.
Essas operações incluíram a participação de navios anfíbios da Marinha e a presença de veículos blindados dos fuzileiros navais, causando preocupação e inquietação entre a população local, bem como medo e confusão diante da falta de informações claras por parte do Pentágono.
As ameaçadoras operações são realizadas em meio a crescentes tensões no Caribe, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas na região.
O Secretário de Estado e o grupo de cubano-americanos que integram esse lobby e também fazem parte do Gabinete de Trump continuam agindo como seus antecessores, que há 60 anos mantêm um terrorismo permanente contra Cuba, como a famosa Fundação Nacional Cubano-Americana, presidida até sua morte por Jorge Lincoln Mas Canosa, que movimenta milhões de dólares em Miami, na Flórida, financiando organizações terroristas criadas para devastar Cuba, e que continuam a fazê-lo.
Eles foram e são responsáveis por milhares de mortes naquele país e por uma série de ações que vão desde bombardeios até provocar incêndios e espalhar pragas. Não há nenhum político da região que não conheça essa situação. Quem a silencia é cúmplice.
O terrorismo criminoso das organizações criadas como equipes de guerra terrorista foi fundamental para mascarar as ações da CIA norte-americana e de outros órgãos de inteligência do império, até se tornarem indispensáveis em suas tarefas de morte e no esquema contra-insurgente.
Até mesmo para negociar com as máfias, controlar o tráfico de drogas, a venda ilegal de armas, entre tantos outros, que é o que proporciona a impunidade com que atuam nos países consumidores ativos, onde ficam os lucros da venda de drogas no varejo.
Que o digam, se não, as grandes empresas beneficiadas pelo dinheiro do narcotráfico e de outras atividades terroristas, que estão devastando o mundo sob diversos disfarces, inclusive supostamente democráticos.
São esses personagens sinistros que hoje estão à frente das ações contra Cuba, com a intenção de que o povo desse país acabe sufocado pela impossibilidade de que cheguem aos seus portos os equipamentos necessários para reativar a rede elétrica, além de outros problemas graves que levaram a extremos extremamente graves a situação, surgidos do bloqueio opressivo.
Vários navios com medicamentos e alimentos não podem chegar aos portos cubanos, nem os equipamentos necessários para os hospitais do país que foi e é um exemplo de prestação gratuita de saúde a todo o povo cubano, assim como de educação.
Houve vários “acidentes” estranhos em Cuba nos últimos tempos, até mesmo raios, relâmpagos e tornados, que agravaram a situação de um país sitiado como se fosse na Idade Média.
Agora é fácil fabricar uma revolta, um protesto de um povo desesperado, e com esse argumento já estão no local para agir, embora saibam da capacidade de resistência que a liderança cubana tem demonstrado.
Neste momento, é necessária a solidariedade imediata expressa em todo o mundo para impedir a asfixia de um povo que, como em Gaza, querem subjugar com fome ou deixá-lo morrer em total abandono, e podem fazê-lo sem disparar um tiro, com tal poder no mar do Caribe que rodeia a ilha e da qual querem apoderar-se pelo seu valor geoestratégico e pelo ódio dos poderosos perante o desafio de um povo e de uma liderança que nunca se renderam.
Não existe na história da humanidade um local em guerra há 63 anos. E não só o povo cubano está em grave perigo como poucas vezes antes. Muito próximo dali, o Haiti foi invadido por mercenários armados, entre os quais os sobreviventes dos “toton macoutes”, esquadrões da morte da ditadura de François Duvalier (Papá Doc) e, posteriormente, de seu filho Jean Claude Duvalier (Baby Doc), que durou de 1957 a 1986.
Além de tudo o que Washington fez desde então até hoje, incluindo o sequestro e transferência de um presidente eleito e amado pelo povo, como Jean- Bertrand Aristide, ex-padre salesiano, o primeiro presidente eleito pelo povo em 1991, que criou o movimento Lavalas, inspirado na “teologia da libertação”, derrubado em 1994 e posteriormente reposto pela comunidade internacional.
Em 1996, ele terminou seu mandato e foi reeleito pelo povo em 2001, sob uma campanha brutal do império, uma guerra econômica e de todos os tipos, até que tropas dos Estados Unidos o sequestraram em 2004 e o transferiram para a África do Sul com o apoio da França.
E o que fez a comunidade internacional durante todo o tempo em que o Haiti vem sofrendo tragédias e todas as formas de terrorismo encobrido com supostas “bandas criminosas” que passam abertamente pelas fronteiras com a República Dominicana?
O drama do Haiti foi ignorado, apesar de ser o primeiro país a produzir a revolução de milhares e milhares de haitianos que estão sendo assassinados por mercenários, disfarçados de gangues terroristas que entraram naquela nação vindos da República Dominicana ou pelo mar. Milhares de haitianos morreram nos últimos meses em meio a um silêncio ensurdecedor.
Não podemos nos deixar oprimir silenciosamente. Toda a América Latina e o Caribe estão sob uma guerra contra-insurgente, que está crescendo de baixa para alta intensidade, e continuamos nos comportando como se cada uma de nossas situações fosse um assunto “interno”.
Este é o “momento dos fornos”, como disse o general Juan Domingo Perón, lá pelos anos 40-50, e como nos alertou o líder cubano Fidel Castro Ruz em seu legado, que está mais atual do que nunca.
Estamos todos em perigo, inclusive o Brasil, a única potência da América Latina; ninguém está fora do alcance. O que está acontecendo na Argentina hoje é muito grave, como parte desse novo avanço imperial.
O Atlântico Sul está neste momento invadido por navios dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, que admitiu ter tomado definitivamente as Ilhas Malvinas, que são argentinas, e com elas, as grandes riquezas do Atlântico Sul, que estão sendo exploradas por empresas britânicas e israelenses, e os canais naturais abertos de comunicação com o Oceano Pacífico.
Enquanto isso, o povo argentino está sendo distraído com uma série de manobras executadas como armas de guerra por um jornalismo falso, que mente e silencia o que nunca deveria silenciar, como o crime contra a humanidade que é o genocídio cometido por Israel em Gaza.
Isso não é jornalismo, é um mercenarismo criminoso que uma sociedade como a nossa não pode tolerar, mas que é tão bem executado na outrora orgulhosa Europa e em tantos países que custa acreditar que sejam “muito civilizados”.
Se a Argentina, com sua história, pôde ser ocupada no sul, como não aproveitarão esse momento político para sufocar Cuba até a morte, para invadir o Haiti como “tropas salvadoras e redutoras”, cujo envio já estão avaliando?
É hora de acordar. É preciso deixar de lado toda a competição. Não só devemos alcançar a unidade de forma urgente em cada país. Precisamos libertar o jornalismo do mercenarismo agora. Amanhã será tarde.
É um apelo não desesperado, mas consciente, inspirado naqueles que nos deram o Comandante Fidel Castro Ruz e o presidente e líder venezuelano Hugo Chávez Frías, impulsionando a Rede de Intelectuais, Artistas e Movimentos Sociais em Defesa da Humanidade, mas também de todos os organismos que existem ao longo do nosso continente e que desafiam e enfrentam o império decadente, hoje mais selvagem do que nunca.
Estamos em perigo, assim como todos os países ameaçados pela frota dos Estados Unidos, os submarinos nucleares de dissuasão em massa, mas de difícil implementação, já que os efeitos de qualquer explosão nuclear atingem o território norte-americano.
Temos imaginação e criatividade suficientes para agir e a certeza de que a unilateralidade chegou ao fim e não estamos sozinhos, com a segurança de que uma Nova Ordem Mundial já começou.
arb/sc/mh/bm
*Escritora argentina, jornalista investigativa e membro da Rede de Intelectuais e Artistas em Defesa da Humanidade.