Domingo, Maio 04, 2025
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Crimes da ditadura não podem ser justificados, alertam no Chile

Santiago, Chile, 17 de abr (Prensa Latina) Repúdio e indignação se espalharam hoje no Chile pelas declarações da candidata presidencial de direita Evelyn Matthei, que justificou o golpe de Estado de 1973 e a repressão à ditadura de Augusto Pinochet.

Em entrevista à Rádio Agricultura, Matthei disse que o golpe militar contra o governo de Salvador Allende “era necessário” e que “não havia outra alternativa”.

“Considerar o golpe de Estado necessário é endossar a perseguição política, a tortura, o assassinato e o desaparecimento forçado de milhares de trabalhadores, estudantes e famílias que sofreram os mais cruéis atentados à vida e à dignidade humana.”

Esta afirmação foi feita num comunicado da Comissão Coordenadora Nacional de Grupos de Familiares de Detidos, Desaparecidos e Executados Políticos, que exigiu uma retratação e um pedido de desculpas público por parte da candidata à presidência da aliança Chile Vamos.

Enquanto isso, o Partido Socialista (PS), ao qual Allende pertencia, expressou sua mais veemente rejeição às declarações de Matthei, que minimizaram e justificaram as violações dos direitos humanos durante o regime militar.

“Nenhum contexto político, ideológico ou histórico poderá validar o horror vivido por milhares de chilenos”, afirmou o Partido Socialista (PS) em um comunicado, lembrando a existência de campos de concentração em todo o país.

O partido alega que, durante os primeiros meses da ditadura, milhares de pessoas foram assassinadas, outras foram privadas de liberdade, submetidas a tratamentos cruéis e desumanos, e muitas continuam desaparecidas.

“O que vivemos no Chile não pode ser banalizado, muito menos justificado”, afirmou o Partido Socialista (PS).

Matthei, que lidera todas as pesquisas de intenção de voto para o palácio de La Moneda, disse no rádio que “provavelmente no começo, em 1973 e 1974, era bastante inevitável que houvesse mortes, porque estávamos em uma guerra civil”.

“Com suas declarações, a candidata viola e ofende a consciência democrática do país”, disse o atual ministro da Segurança Pública, Luis Cordero, que citou entre os exemplos os 38 agricultores assassinados em Paine.

“Eles foram detidos sem armas; muitos deles se apresentaram voluntariamente. Eles não estavam participando de nenhuma guerra civil”, lembrou.

A ativista da União Democrática Independente também é filha de Fernando Matthei, um alto líder da Junta Militar e comandante-chefe da Força Aérea durante a ditadura.

“É inaceitável que um negacionista de uma família golpista seja atualmente candidato à presidência”, disse a deputada Lorena Pizarro.

Em um vídeo em sua conta no X, ele acrescentou que “o país está em risco quando aqueles que defendem e justificam golpes de estado tentam liderar o destino do Chile”.

O senador democrata-cristão Iván Flores alertou que “na política, nem tudo vale. Violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade são e sempre serão inaceitáveis e injustificáveis”.

Segundo relatos da Comissão da Verdade, durante os 17 anos de ditadura (1973-1990) foram registradas aqui mais de 40 mil vítimas, sem contar os 200 mil exilados.

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