O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na semana anterior que a missão de observação eleitoral, nomeada pelo bloco comunitário para as próximas eleições, teria como objetivo acompanhar a oposição venezuelana e o seu relatório final ‘legitimará ou deslegitimará’ o acontecimento democrático.
Segundo artigo do grupo de pesquisa e análise Misión Verdad, o diplomata parece não estar atento aos tempos políticos, conforme os comentários feitos sobre o viés da delegação de observadores e a suposta arbitragem com ares coloniais.
Tendo em conta que a anunciada missão de observação eleitoral da UE faz parte dos acordos entre o Governo Bolivariano e a oposição, é importante que os fatos e declarações sobre a situação venezuelana sejam o menos preocupantes possível, sublinhou a fonte.
Misión Verdad também questionou a possibilidade de que o relatório pós-eleitoral do bloco comunitário tente emular o papel da Organização dos Estados Americanos na Bolívia em 2019, quando um relatório fraudulento abriu a brecha para o cenário do golpe contra Evo Morales.
Tanto o governo venezuelano como o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) exigiram retificações do alto funcionário europeu, tendo em vista as alegações de utilizar a delegação de observadores em benefício de um viés político.
Em um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores, o Executivo Bolivariano confirmou que não vai aceitar qualquer interferência no processo eleitoral em novembro, cuja legitimidade e legalidade ‘não depende, nem vai depender, de qualquer ator estrangeiro, mas estritamente da soberania popular ‘, frisou.
Por sua vez, o presidente da CNE, Pedro Calzadilla, afirmou que as declarações de Josep Borrell violavam a soberania e independência da Venezuela e o espírito do acordo assinado entre as partes para acompanhar o desenvolvimento das próximas eleições.
Em declarações proferidas no domingo durante a simulação eleitoral, especificou que nenhum país autorizaria a presença de uma missão internacional, cuja autoridade expresse que vêm apoiar uma parcialidade política ou que a legitimidade do processo depende dos resultados do relatório divulgado por essa entidade.
A este respeito, o chefe do Conselho Latino-Americano de Peritos Eleitorais (Ceela), Nicanor Moscoso, considerou que as declarações do representante europeu continham um matiz político, ao contrário dos objetivos de uma observação técnica. Em comentários dirigidos à Rádio União, o presidente da Ceela disse que Borrell errou ao afirmar que a UE vinha à Venezuela para apoiar a oposição e que dependeria do relatório da missão, para legitimar ou não o resultado das eleições em 21 de novembro.
Diante desse cenário, um porta-voz do bloco comunitário afirmou na véspera que os observadores europeus convidados pelo mais alto órgão eleitoral do país sul-americano respeitarão integralmente os princípios da imparcialidade, objetividade e independência.
Segundo reportagens da imprensa, o porta-voz Peter Stano assegurou que ‘de forma alguma’ a UE pretende interferir no processo eleitoral venezuelano, porque ‘a não ingerência nas eleições está no cerne da missão e está incluída no acordo administrativo com o CNE ‘, disse ele.
Em 2020, a UE descartou o envio de observadores às eleições legislativas de 6 de dezembro, questionando as condições e garantias existentes, além de impor uma série de restrições, numa postura intervencionista veementemente rejeitada pelo Estado venezuelano.
A Venezuela irá às urnas no dia 21 de novembro para eleger os 23 governadores e 335 prefeitos do país, além dos membros dos conselhos legislativos regionais e municipais.
A renovação da CNE e a convocação das chamadas megaeleições foram um resultado direto dos acordos da mesa de diálogo nacional, instalada em 2019 entre o Governo Bolivariano e vários partidos da oposição.
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