O processo durou mais de 15 horas, enquadrado na sessão 726, que cumpriu todas as etapas estabelecidas na Constituição.

Com 136 membros da assembleia presentes e apenas uma ausência, 75 legisladores votaram a favor da moção que propunha a sanção do funcionário, enquanto 47 se manifestaram contra e houve 14 abstenções.

Um intenso debate caracterizou o dia, a partir das intervenções de Ricardo Vanegas (Pachakutik) e Yeseña Guamaní (Esquerda Democrática), que expuseram os motivos do pedido de ação penal por incumprimento de funções.

Segundo os interpelantes e o relatório da Comissão de Fiscalização, ocorreram violações à Lei da Defensoria do Povo e à Lei Orgânica da Função Pública, além de outras relacionadas aos direitos humanos por causar dano físico a pessoa do sexo feminino, evidenciadas em vídeos, em documentação e depoimentos. Fatos como o uso indevido de bens da Defensoria do Povo foi um dos motivos apontados, além da ação penal contra o funcionário por suposto abuso sexual cometido em maio, durante visita à casa do ex-ministro da Saúde Pública Mauro Falconí, no meio do toque de recolher organizado para evitar a propagação da Covid-19.

No juízo, foram favoráveis a moção os deputados da Esquerda Democrática, o Partido Social Cristão, a bancada do Acordo Nacional (BAN), que agrupa o Creo e independentes, e um dividido Movimento de Unidade Plurinacional Pachakutik.

Por sua vez, a bancada da aliança progressista União pela Esperança (Unes) rejeitou a medida.

Nesse sentido, Viviana Velóz, em representação da UNES, afirmou que houve violações no processo contra Carrión, a fim de defender autoridades que violaram os direitos dos equatorianos.

Além de sua censura e exoneração, a moção propunha o encaminhamento do processo à Controladoria-Geral da República, ao Ministério Público e ao Comando Geral da Polícia para iniciar um exame especial por abuso de recursos e bens públicos e durante o exercício do cargo e determinar responsabilidades.

Múltiplas opiniões concordam que o ex-funcionário foi vítima de perseguição política por denunciar crimes de lesa humanidade perpetrados durante os 11 dias consecutivos de protesto nacional contra o governo nacional, em outubro de 2019.

Sobre este assunto, no seu direito de defesa em plenário, o acusado insistiu: ‘Denunciei ao país que foi este o pano de fundo de toda essa perseguição que iniciaram contra mim, porque fui eu que ousei questionar o poder e denunciá-lo ‘.

Da mesma forma, acusou seus interpelantes e o primeiro vice-presidente da Assembleia, Virgilio Saquicela, de buscar ‘repasses’ na Defensoria, por trás desse mecanismo de controle político.

Por sua vez, sua esposa, Priscila Schettini, alertou que com seu voto os parlamentares poderiam legitimar uma fraude processual, já que havia boletins policiais adulterados, entre outras irregularidades.

‘É uma armadilha, um show para fazer cair o defensor pelos acontecimentos de outubro de 2019’, alertou.

Para Sofía Espín, da UNES, o grupo político votou com a consistência de sempre, em desacordo com a perseguição, que foi consumada com as sanções.

Entre aqueles que não apoiaram a moção de Pachakutik estava Salvador Quishpe, que em sua declaração disse: ‘Aqui está claro: este juízo é por causa do relatório que inclui crimes de lesa humanidade contra os ex-governantes do período anterior.’

‘Votar a favor da demissão ou censura seria desfazer-se desse informe e não estamos aqui para isso, vamos reivindicar a nossa luta, essa luta pelo respeito à dignidade ‘, acrescentou.

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